Bio2Me faz parte do Programa Soja Sustentável do Cerrado (PSSC)
Modelo de manejo sustentável de bioativos é apresentado a produtores rurais e players do mercado
E se pudermos mostrar ao produtor rural que a conservação pode ser uma atividade rentável e se tornar uma fonte complementar de renda em propriedades com excedente de mata nativa ou de Reserva Legal?
Partindo dessa pergunta – e com a resposta já na ponta da língua –, a Bio2Me foi uma das startups selecionadas para o Programa Soja Sustentável do Cerrado (PSSC). A iniciativa é promovida pela AgTech Innovation, da PwC, e pelo Land Innovation Fund (LIF), com parceria estratégica da Cargill, CPQD, Embrapii e Embrapa e fomenta a inovação no agronegócio com foco na produção livre de desmatamento.
Com modelo de negócios baseado na operação de fazendas e no manejo sustentável de bioativos no Cerrado, a Bio2Me atua em áreas conservadas ou improdutivas, identificando as melhores terras e transformando-as em oportunidades de investimento, comprometida em estruturar a operação de ponta a ponta, com uma abordagem verticalizada da semente à mesa.
A partir dessa atuação estruturada em toda a cadeia, a Bio2Me ingressou no PSSC ao propor uma iniciativa que envolve a avaliação do potencial produtivo das fazendas selecionadas para os bioativos baru e fava d’Anta, aplicação de tecnologia de Inteligência Artificial (IA) e Internet das Coisas (IoT), treinamentos para manejo e coleta e, por fim, a comercialização desses bioativos. Também faz parte da ação, o plantio de mudas de baru, com melhoramento genético nas três propriedades, produzidas no viveiro do Grupo Bio2Me.
“O que estamos fazendo é demonstrar na prática a viabilidade de um plano de negócios focado na monetização de áreas conservadas – seja de Reserva Legal ou excedente de mata nativa nas propriedades. Estamos levando informações para o proprietário sobre o potencial de bioativos da sua fazenda, como estruturar este tipo de operação sem perder seu foco principal, fazer o manejo sustentável, a coleta, o processamento e a venda dos bioativos”, explica Patricia Egreja, CTO da Bio2Me.
As fazendas selecionadas estão localizadas em Diamantino (MT), Brejo (MA) e Aparecida do Rio Negro (TO), regiões de Cerrado com diferentes fitofisionomias (tipos de vegetação), um fator que também será útil para aprofundar o entendimento da aplicabilidade do trabalho em diferentes condições.
As propriedades já passaram pelas visitas e tiveram suas áreas de mata nativa mapeadas via drone. A tecnologia de rede neural desenvolvida pela própria Bio2Me identifica as árvores de interesse comercial e avalia o potencial de produção de bioativos de alto valor de mercado das fazendas.
“Percebemos a curiosidade e o interesse dos produtores ao apresentarmos a proposta. Nem precisamos ir atrás de interessados em participar do projeto, eles se colocaram à disposição para conhecer o nosso modelo”, acrescenta.
O objetivo é apresentar aos produtores uma nova forma de olhar para suas terras, em vez de enxergar áreas de mata nativa como ociosas, só arcando com os custos para mantê-las, eles podem vê-las como fontes de renda.
Por meio do manejo inteligente de bioativos, os produtores podem diversificar fontes de receita, conservar a biodiversidade e reforçar uma agenda positiva de sustentabilidade.
O uso das tecnologias de IA e IoT torna o processo de identificação e manejo mais eficiente e autossuficiente.
Foi o que foi feito, por exemplo, na Fazenda Nossa Senhora Aparecida, no Mato Grosso, da produtora Lígia Pedrini, 27 anos. Em junho, ela recebeu a equipe da Bio2Me para fazer o sobrevoo de drone nas suas áreas de vegetação nativa e o levantamento das espécies existentes.
“Me interessei pela possibilidade de monetizar uma área fechada. Manter o local conservado gera despesas, custos de manutenção, fazer aceiros para prevenir riscos de incêndio, como já ocorreu. Tem sido cada vez mais difícil rentabilizar, nossos custos são em dólar”, conta Lígia.
“Já pensamos muito em alternativas como montar uma pequena fábrica de conservas de pequi ou produzir mel, instalar uma pousada, porque é uma área muito bonita. Mas isso demanda tempo, energia, conhecimento. E não é o nosso know how. O produtor precisa focar no seu core”, acrescenta ela, indicando porque se interessou pelo modelo proposto pela Bio2Me de fazer a gestão das áreas conservadas.
A Bio2Me atua na operação de fazendas em áreas próprias, cedidas em parceria ou arrendadas, oferecendo gestão profissional, tecnologia, um time multidisciplinar e uma cadeia de produção estruturada para ativos da biodiversidade de alto valor no mercado.
A tecnologia também dá transparência à operação: por meio do sensoriamento e do taggeamento das árvores de interesse comercial em cada fazenda, o proprietário sabe exatamente a previsão de produção.
Embora a região de Diamantino não possua grandes volumes de baru, há árvores de pequi em abundância, como Lígia já suspeitava. A produtora espera agora a conclusão da avaliação da propriedade pelos técnicos da Bio2Me para entender o potencial produtivo do local.
“Meu pai é muito empreendedor e inovador. E eu gosto de testar coisas novas. Mas precisa realmente de um plano de negócio, estruturar a cadeia e tudo o mais”, argumenta Lígia, que, além de agricultora e engenheira agrônoma, mantém um perfil nas redes sociais (@ligiapedrini), em que fala sobre técnicas produtivas e o dia a dia da atividade agrícola.
Ecossistema de inovação ajuda a amadurecer o negócio
Além de aproximar os empreendedores desses agentes, parcerias como essa oferecem mais subsídios e ajudam a comprovar sua tese.
O PSSC é uma das principais iniciativas de fomento a novas ideias para a produção sustentável no Cerrado, reunindo em torno do programa todos os elos da cadeia de suprimentos agrícola: a iniciativa privada, que fornece insumos sobre a viabilidade comercial da ideia, pesquisadores, mentores e especialistas para suporte técnico, o apoio financeiro e o olhar do produtor rural para entender como esses projetos podem ser aprimorados e confirmar se a ideia faz sentido no campo.
“A Bio2Me e demais startups selecionadas tratam de alguns dos maiores desafios das agendas agrícola e ambiental. Nosso foco é fomentar a criação de soluções inovadoras para o desenvolvimento agrícola sustentável, livre de desmatamento e conversão de vegetação nativa”, aponta Ashley Valle, diretora do Land Innovation Fund.
Desde 2021, o programa recebeu mais de 300 inscrições para seus processos seletivos e 34 startups foram selecionadas – entre as quais a Bio2Me – para desenvolverem ou acelerarem seus empreendimentos.
O recurso financeiro recebido do PSSC foi aplicado em novas tecnologias, como a aquisição de um novo drone, mais avançado e robusto para o trabalho de avaliação das propriedades.
Essas conexões ainda abrem espaço a novas oportunidades, como duas parcerias iniciadas recentemente pela Bio2Me. Uma delas irá desenvolver uma máquina de extração da castanha de baru com o Polo de Inovação do Instituto Federal da Paraíba, ligado à Embrapii.
A outra deu origem a um estudo que avalia o uso da polpa do baru na nutrição de ruminantes com o Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Piauí. Novas ações que devem apoiar o desenvolvimento da cadeia e do mercado para o baru.
“Os estudos para uso da polpa do baru, um subproduto da nossa produção, na nutrição animal podem trazer vantagens de custo aos produtores e a máquina para automatizar a extração da castanha vai facilitar nossos ganhos de escala – ambas as iniciativas já estão em andamento. A Nestlé também nos convidou para a sua plataforma de inovação aberta, o Panela Nestlé, a partir da nossa presença nesse ecossistema”, conclui Patricia.
Com isso, a Bio2Me está amadurecendo rapidamente, ampliando seu público e a diversidade de situações em que aplica e testa seu modelo, enquanto estrutura uma cadeia completa para a produção de bioativos, com manejo sustentável e rentabilização de áreas conservadas.
Essa história de alianças e inovação no Cerrado é um testemunho de como tecnologia e desenvolvimento podem criar um futuro mais sustentável para os produtores e para o meio ambiente.
“O que estamos fazendo é demonstrar na prática a viabilidade de um plano de negócios focado na monetização de áreas conservadas – seja de Reserva Legal ou excedente de mata nativa nas propriedades”.
Patricia Egreja, CTO da Bio2Me
“Me interessei pela possibilidade de monetizar uma área fechada. Já pensamos muito em alternativas como montar uma pequena fábrica de conservas de pequi ou produzir mel, instalar uma pousada, porque é uma área muito bonita. Mas isso demanda tempo, energia, conhecimento. E não é o nosso know how”.
Lígia Pedrini, agricultora e engenheira agrônoma, Fazenda Nossa Senhora Aparecida, no Mato Grosso
“A Bio2Me e demais startups selecionadas tratam de alguns dos maiores desafios das agendas agrícola e ambiental. Nosso foco é fomentar a criação de soluções inovadoras para o desenvolvimento agrícola sustentável, livre de desmatamento e conversão de vegetação nativa”.
Ashley Valle, diretora do Land Innovation Fund (LIF)