O desafio do plantio de floresta nativa no Brasil
Estruturação da cadeia de bioativos passa pelo desenvolvimento de sementes e mudas das espécies vegetais características dos biomas brasileiros, como o Cerrado
Em um país conhecido por sua rica biodiversidade, a falta de um insumo básico para projetos de reflorestamento pode se tornar um obstáculo para a restauração florestal e para a construção de cadeias produtivas baseadas no manejo sustentável de espécies nativas.
Segundo reportagem do Globo Rural, seria necessário produzir até 1 bilhão de mudas por ano para o Brasil alcançar sua meta de reflorestar 12 milhões de hectares até 2030, compromisso do país com o Acordo de Paris. Para atender à demanda, seria preciso mais do que duplicar a quantidade de viveiros e ampliar consideravelmente a capacidade dos já existentes – a produção anual hoje não chega a 200 milhões, segundo estimativas.
E a busca por mudas também tem crescido diante dos compromissos de enfrentamento das mudanças climáticas assumidos por grandes companhias, com projetos de restauração para gerar créditos de carbono.
Algumas das maiores iniciativas de reflorestamento no Brasil, incluindo projetos da Monbak, re.green, Black Jaguar e Biomas (envolvendo empresas como Vale e Suzano), somam juntos cerca de 7 milhões de hectares.
“Para recuperar 1 hectare você precisa de 1.600 mudas. São 1,6 milhão de mudas para completar mil hectares. E isso é nada comparado ao que esses projetos estão buscando. Uma iniciativa recente anunciada pela Microsoft deve demandar cerca de 30 milhões de mudas. E tem a questão das sementes, em muitos casos, disponível apenas na forma de coleta direta da natureza. Existem projetos de bancos de sementes, em muitos casos envolvendo as comunidades locais, mas já ouvi reclamações deles de que faltam pedidos. Então, falta conexão entre essas duas pontas também”, comenta Claudio Fernandes, CEO da Bio2Me.
Estratégia da Bio2Me inclui estruturação de viveiros
A preocupação com a oferta de mudas nativas faz parte do desenvolvimento da Bio2Me, que previu junto com sua operação, a produção própria das mudas de árvores nativas do Cerrado para assegurar a escalabilidade do seu modelo de operação de fazendas e manejo sustentável de bioativos.
Um viveiro de plantas funciona na propriedade de Fernandes, em Luziânia (GO), a propriedade que impulsionou o modelo de negócios da Bio2Me. A estrutura produz mudas de baru e de baunilha em uma escala reduzida.
Com capacidade inicial para gerar 500 mil mudas/ano, um viveiro modelo está em fase final de desenvolvimento e ocupará uma área de aproximadamente 2 mil metros quadrados na primeira fazenda arrendada pela Bio2Me, em Cavalcanti (GO). O local contará com estufas para produção de exemplares de baunilha e de outras árvores nativas locais, processos de irrigação, acompanhamento técnico e rastreabilidade. A produção ainda deve incluir mudas de espécies como baru, fava d’Anta, jatobá, pequi, entre outras.
A ideia é produzir sementes e mudas das principais espécies existentes no Cerrado para garantir insumo para o cultivo dos bioativos em sistemas consorciados, ou seja, reproduzindo a diversidade que é própria desses locais.
Cultivadas em ambiente apropriados, a partir de sementes e matrizes existentes nas fazendas operadas, as mudas ainda devem gerar árvores com maior produtividade de bioativos.
Além da área que será modelo em Cavalcanti, o objetivo é instalar viveiros menores, para cultivar entre 10 mil e 20 mil mudas/ano, em outras fazendas operadas pela Bio2Me, garantindo um abastecimento local, menor complexidade e custo logístico e uma produção regionalizada, em condições adequadas às diferentes fitofisionomias (tipos de vegetação) do Cerrado.
O viveiro se tornou uma unidade de negócios da Bio2Me e, além de gerar insumos para operação própria, também comercializará as mudas, ajudando a atender a demanda do mercado nos projetos de reflorestamento.
“Queremos garantir a estruturação da cadeia, não podemos ficar a dependentes da falta de insumos”, completa Fernandes reforçando o modelo da Bio2Me.
Com poucos atores atuando neste mercado, este é um diferencial para assegurar o insumo básico para a produção de bioativos, além de contribuir para organizar e fortalecer o setor.