Regeneração e proteção do Cerrado passam pelos bioativos

Modelo de produção de castanhas e outros bioativos de alto valor é aliado tanto da prevenção de incêndios como também solução para recuperar as áreas de vegetação nativa

Regeneração e proteção do Cerrado passam pelos bioativos Área de vegetação nativa do Cerrado em Palmas (TO).

O ano de 2024 é mais um período com índices recordes de queimadas no Cerrado. Segundo o MapBiomas, apenas em agosto, o Cerrado registrou aumento de 177% de área queimada, com 2,5 mil hectares, o maior desde 2019, quando o Monitor do Fogo passou a atuar.

Impulsionado por uma combinação de fatores climáticos e atividades humanas, o cenário prejudica habitats de espécies nativas e a fumaça impacta diretamente a saúde da população. As altas temperaturas degradam o solo, comprometem sua fertilidade e afetam a agricultura local. A perda de vegetação ainda interfere no ciclo de chuvas e colocam em risco a segurança hídrica e energética do Brasil.

Para se ter uma ideia, 90% dos brasileiros consome alguma energia que vem das águas do bioma; o Cerrado abastece de água cerca de 40% da população e 80% da área irrigada do país está na região, segundo o Instituto Cerrados.

Esse cenário reforça a urgência de soluções para conservar áreas de mata nativa ao mesmo tempo em que ofereçam um modelo produtivo que estimule o investimento em ações preventivas e de recuperação dessas áreas.

É aí que se concentra o sistema de produção de bioativos a partir de espécies nativas do Cerrado desenvolvido pela Bio2Me. O modelo busca entregar valor valorizando a mata em pé.

A produção de bioativos tem o potencial tanto de prevenir incêndios, ao aumentar o monitoramento local e sensibilizar os produtores para manterem essas áreas, como também é estratégica para regenerar áreas que foram consumidas pelo fogo.

Um dos primeiros pontos é o uso da tecnologia associada ao manejo das áreas de mata nativa. Além de apoiar a produção, o uso de sensoriamento e inteligência artificial auxiliam o monitoramento contínuo nessas áreas. Nas operações da Bio2Me, todas as árvores que produzem bioativos como baru, fava d’anta ou pequi, entre outros, recebem uma tag e são acompanhadas em tempo real.

A produção é feita exclusivamente com plantas nativas do bioma, de diferentes espécies locais, plantadas de modo consorciado. Isso também contribui com o adensamento verde dessas áreas. Além disso, o plantio planejado, feito em linha, melhora o acesso de equipes e veículos. A agilidade conta muito no combate a focos de incêndios, impedindo que ele se espalhe sem controle pela região.

Os planos de manejo ainda envolvem a construção e a manutenção de aceiros e o treinamento de brigadas de incêndio, outras barreiras fundamentais para impedir o avanço do fogo.

“Produzir integrando as funções ambiental e social e a econômica é urgente no Cerrado. Demonstrar que essas áreas podem ser manejadas de forma sustentável e deixar de serem vistas apenas como fonte de despesas aos proprietários de terra será muito benéfico para as atividades de conservação”, comenta Claudio Fernandes, CEO da Bio2Me, que estruturou seu modelo de negócios a partir da produção de bioativos nativos do bioma, sem derrubar a vegetação.

Vale lembrar que a vegetação nativa é mais resistente ao fogo. Muitas delas, inclusive, só conseguem se reproduzir quando expostas às altas temperaturas das chamas – diferente do prejuízo causado em incêndios sem controle que invadem as lavouras.

A B2MV, braço da Bio2Me, produz e comercializa mudas e sementes nativas a partir do coração do Cerrado.

A B2MV, braço da Bio2Me, produz e comercializa mudas e sementes nativas a partir do coração do Cerrado.

Recuperar áreas degradadas

Com grandes extensões de mata nativa impactadas pelos incêndios, a recuperação dessas áreas precisa ser planejada e iniciada o quanto antes.

Repovoar esses territórios com espécies locais de alto valor agregado, como as que produzem castanhas ou ingredientes para a indústria de alimentos e farmacêutica, também se torna uma oportunidade de aliar regeneração do bioma e valorização das terras. Esses são insumos altamente requisitados no mercado do Brasil e internacional.

Nesta etapa, obter mudas e sementes de qualidade e na quantidade necessária é outra barreira que a Bio2Me ajuda a derrubar.

Por meio da B2MV, a empresa conta com viveiros de cultivo de mudas e produção de sementes localizados no coração do Cerrado: na porta da Chapada dos Veadeiros, em Cavalcante e Luziânia, no estado de Goiás.

“Conhecemos o bioma e temos profissionais especializados para que nossas mudas e sementes apresentem vigor e adaptação ideal a cada fitofisionomia (tipos de vegetação) do bioma. Cuidadosamente preparados, esses exemplares têm menos mortalidade e alta germinação, sendo também mais produtivos quando atingirem a fase adulta”, explica Marcio Campos, CFO da Bio2Me.

Multiplicar sementes e desenvolver mudas é uma atividade que demanda tempo e a procura se multiplica atrelada à projetos de restauração e geração de créditos de carbono para grandes empresas.

“Empresas e organizações com compromissos de geração de créditos de carbono precisam reflorestar grandes áreas e pouco se fala da necessidade de ampliar o mercado de sementes e mudas. É um insumo essencial. Na Bio2Me, pensamos a produção de bioativos do Cerrado com escala e atuação em toda a cadeia desses produtos. Assim, conseguimos nos antecipar e investir no cultivo próprio de mudas e sementes. Geramos para as áreas próprias ou operadas pela Bio2Me e o excedente pode ser comercializado”, conclui Fernandes.